Heitor Villa-Lobos merece ser comemorado por tudo que fez.
Se vivesse hoje, ganharia o diagnóstico de criança hiperativa, mas conseguiu ao longo de sua vida transformar toda a agitação em produção musical.
Ao ouvir os discursos que fez em várias ocasiões, o que salta aos ouvidos é o compromisso não com uma intelectualidade que quer impor sua forma de pensar, mas sim com uma vontade ferrenha de, através da música, contribuir para a educação de todo um país. No seu tempo, incrementou o estudo da música nas escolas públicas, escrevendo peças exclusivas para o canto coletivo (Canto Orfeônico). Fez apresentações públicas no Rio de Janeiro com Corais Gigantes em estádios de futebol.
Não era um megalomaníaco. Era um obstinado em fazer música. Tinha um canal aberto com O Deus Apolo bem dentro de seu ouvido. Por isso, podia escrever música enquanto jogava bilhar ou conversava numa mesa de bar barulhento. Dizia sempre que o ouvido interno era o mais importante.
Foi para a Europa e lá foi questionado sobre o que iria aprender. De imediato, respondeu que foi mostrar sua música e não aprender.
Perguntado se sofria influências dos compositores que se encontravam também em Paris, respondeu que ao sentir alguma possibilidade de influência, se sacudia todo para não ser influenciado.
Villa lutou muito para dar ao seu país uma linguagem musical original e criativa. Partiu da estética europeia (Bach era seu grande norte musical) e foi acrescentando timbres, cores, melodias, ritmos, etc. que o consagraram como o grande compositor Brasileiro. Não foi o pioneiro em adotar ritmos brasileiros na música erudita, mas foi quem melhor o fez.
Ainda hoje, escutar as Bachianas Brasileiras e sua série de Choros Brasileiros nos emociona e encanta.
A relação do Brasil com nosso maior mestre é ainda muito frouxa e inconsistente. Ele merece muito mais.
Com a volta do ensino de música nas escolas a partir desse ano, esperamos que sejam reaproveitados os vários materiais didáticos elaborados por Villa.
Cabe ressaltar que no seu tempo, Villa foi um dos poucos compositores que escreveu álbuns de peças de piano para crianças, a quem tanto amava. Casado por 2 vezes, não teve filhos, mas deixou várias criações que ao longo dos anos vem amadurecendo e cada vez mais surpreendendo o mundo musical devido à sua orquestração ousada e criativa.
Após sua morte Villa foi considerado por Messiaen, o grande mestre Francês, como um dos maiores orquestradores da História da Música.
Parabéns ao Villa por sua vida, por sua música, e por sua ousadia em criar para nós Brasileiros, um conjunto de peças musicais tão grandiosas, tão nossas.
Samir Rahme